sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Viver ou morrer em Paris?

Jules acordou mais deprimido que de costume, esse era o seu problema, acordar. Você pode imaginar, caro amigo, o que é acordar quando se está morto? E ainda por cima conseguindo interagir com todos e ser tido como louco por se declarar um defunto? Por que teimavam com ele algo tão óbvio? O que há de errado em morrer? Se tantos podem por que ele não? Quanta injustiça!

Hoje era um dia decisivo para ele, o seu dia D. O morto-vivo optara por não mais se alimentar, afinal, mortos não comem. Foi quase que rastejando até o banheiro e começou a encher a banheira com água morna, mas logo mudou de idéia, não havia necessidade disso, vestiu o pijama jogado na porta e saiu às ruas numa manhã espetacular na sua charmosa Paris. Dobrou a esquina da rua na qual morava, Rua Cotard, número 1880, e se dirigiu ao seu local preferido da cidade - e também de inúmeras pessoas em todo o mundo - a Torre Eiffel.

O cenário estava perfeito, um gramado repleto de pessoas pegando o sol leve da manhã e fazendo piqueniques, não faltariam testemunhas para vislumbrar sua prova de imortalidade.

Jules pegou o elevador e foi ao último nível da Torre aberto à visitação. Chegara a hora de provar ao mundo que estava certo, ou seja, era um defunto, portanto, imortal.

Já apoiado no parapeito começou a fazer um grande escândalo e rapidamente conseguiu o que pretendia, a atenção de todos ali presentes. Griatava para a multidão: Estou morto! Por que vocês não me aceitam como tal?

As pessoas abaixo dele começaram a se aglomerar para ver de perto o maluco que se jogaria Torre abaixo - a humanidade nunca encontrou atividade melhor do que ver a desgraça alheia, e vê-la numa paisagem daquelas era imperdível, nem o Coliseu é palco melhor.

Peço já desculpas pela descrição tão breve do momento, mas foi um ato tão rápido que o que expus há pouco ocorreu em frações de segundos: Jules, o morto-vivo parisiense, se jogara Torre abaixo atraindo ainda mais curiosos que queriam ver seu corpo em migalhas na base do monumento.

Azar ou sorte, tire suas próprias conclusões, o cadáver estava vivo. Foi levado ao hospital - após um casal de turistas posarem ao lado dos paramédicos para uma foto - e após acordar mais de uma semana depois, descobriu que estava realmente vivo, e, como uma lembrança da tragédia, perdeu os movimentos das pernas e ganhou uma cadeira de rodas. Jules não ficou nem um pouco abalado, aliás, o que é perder duas pernas para quem tinha perdido a própria vida?

13 comentários:

Jorginho disse...

Keep up the good work!
Vc escreve demais cara, faz mais contos por favor!!!!!!!

Fabiana disse...

Amei o conto, preciso criar coragem e fazer um blog pra escrever tbm ;)
Bjxxxx

Lucas Magno disse...

Lucas
Simplesmente ma-ra-vi-lho-so...

Me deixou até um pouco sem fôlego! Quando leio, consigo me envolver tanto com a história, que consigo me sentir dentro dela.
Parabéns pelo talento.

Furdunço disse...

mto mto bom o conto simplesmente adorei!!!

WilliaM disse...

Belo blog...

o texto ta muito bom!


www.osanormaiis.blogspot.com

The Chaos King disse...

Padrão, rapaz!
Eu escrevo, mas só quando dá aquela coceirinha de minha veia mentirosa...
AHUhuauhahuahuahuauhz...

Como sempre, final Kantiano e implacável!
Bom D+!
^^

Samuel disse...

Show de bola! Vc escreve tao bem qnt pintar c lukscolor ou cm o palmeiras joga X)

bAnDiTT disse...

legal seu blog, da 1 passada no meu vlw

Milla disse...

Otimo conto, quero ler outros, viciei! :D

Mariana disse...

Esse ate agora e o meu preferido de seus contos :) Historia sur-pre-en-den-te-!
Beijussssssss

Anônimo disse...

Querido amigo avassalador...
Gostei do nome. O conto está bem escrito e parece ter alma em suas palavras.
Sucesso!

KarinaK disse...

essa história fikou massa, Lucas!!!
=))) Adorei o final!

Filipe Veras disse...

eu já li essa crônica umas 3 vezes e ela não para de ficar melhor...