quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Natal sem Dente na Casa de Parente


O natal da minha família sempre tentou ser somente um natal tradicional, mas felizmente nunca conseguiu, e a cada ano nos superamos e algo inacreditável ocorre. No último natal aconteceu um fato tão bizarro que chega a ser egoísmo não dividí-lo com você. E esse será o meu presente de natal a todos os leitores desse Blog...


Jingle bells, jingle bells, jingle all the way ...

O papai noel tamanho real (não me perguntem como sabem que é tamanho real) que minha avó havia comprado cantava e rebolava quando cheguei com meus pais e irmãos em sua casa. As tias chatas estavam a postos falando mal dos parentes que ainda não tinham chegado - mudaram de assunto assim que chegamos - os primos em tamanho miniatura corriam feito pinschers pela casa toda e os mais velhos ainda não tinham chegado.

Por volta das onze horas começamos o amigo secreto. Pedi pra começar e milagrosamente me deram essa honra. Descrevi quem tirei:

1. Um sujeito desastrado;
2. Incoveniente;
3. Geralmente engraçado e;
4. Com uns 200 kilos destribuidos nos seus 1,90m...

A família respondeu em coro: Frank! Era o irmão do meio de minha mãe, o tio preferido de todos os sobrinhos e filho e marido indesejado. A brincadeira continuou com ora alegria, ora decepção, eu por exemplo ganhei um conjunto de sabonete líquido e shampoo, será que sou tão fedido?

A ceia foi servida pouco após a meia-noite, depois de rezarmos o pai-nosso. Nunca tinha visto uma mesa tão farta, era uma pena eu ter me enfartado tanto com queijo e salgadinhos, mas pelo menos pro famoso tender preparado pelo meu avô eu tinha um lugar guardado. Tio Frank sentou numa das cabeceiras da mesa de 2 mil metros e gentilmente pediu ao meu pai, que estava no meio da mesa:

- ALFREDO, PASSA O PERU!

Ele cortou quase um kilo de peru e a coxa que sempre dizia ser sua por direito, sabe-se lá por que, e depois da primeira garfada voltou a falar:

- PORCARIA! Meu dente caiu ! Alguém me ajude a achar esse infeliz nesse prato.

Só minha vó conseguiu parar de rir e ajudar o abestado, o dente estava no meio da salada, e o prato dele era maior que os dos outros tios juntos. Ele pegou o dente e saiu resmungando para a cozinha. Após todos acalmarem os ânimos continuamos jantando, quando de repente vem o tio Frank correndo da cozinha pulando e sem abrir a boca, totalmente desesperado com uma Super Bonder na mão. Colou além do dente a boca...

-Maravilha! - Meu pai não aguentou e foi o primeiro a gargalhar.

Metade da família interrompeu o jantar e foi levá-lo ao hospital enquanto a outra metade ficou rindo da situação. Após duas horas o resgate em família retornou com tio Frank puto da vida, ele nem respondeu às provocações e foi terminar o seu prato, ficando ainda mais enfurecido ao perceber que roubaram a coxa do seu prato.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Uma Vida Nas Alturas

Tripulação, decolagem autorizada.

O coração de Ana Maria estava mais acelerado que os dos torcedores do Vasco no jogo do rebaixamento, era seu primeiro vôo, todos os seus amigos e familiares foram levá-la ao aeroporto - nenhum deles tinha viajado de avião também, isso não era comum na década de 60 - ela estava saindo do Rio de Janeiro para Miami, queria parir ao lado do marido, que prestava serviço lá há um ano para uma empresa de engenharia brasileira. E seu filho teria além do suporte de uma das melhores maternidades do mundo, dupla nacionalidade.

Para não viajar sozinha insistiu que a irmã, Beatriz, fosse com ela, alegou ser covardia deixar uma irmã com uma barriga de sete meses sozinha numa máquina daquelas, se era pra sofrer que sofressem em família.

O comandante anunciou que poderiam retirar o cinto de segurança e que em poucos minutos seria servido o serviço de bordo.

Ana comeu o seu jantar e o da irmã, a qual estava completamente imóvel esmagando um terço entre seus magros e longos dedos.


- Está com medo Bia?

- Não tanto, mas começo a duvidar de que eu tenha coragem para viagem de volta. E você está bem?

- Estou sim, só queria que você me ajudasse a ir ao banheiro, bebi muito suco e acho que não segurei, estou toda molhada.

- Como é? Deixe eu dar uma olhada.... Sua bolsa rompeu!! Socorro! Minha irmã entrou em trabalho de parto!!


O avião sobrevoava a floresta amazônica neste momento. Haviam três médicos no vôo, mas logo que o primeiro se apresentou os outros preferiram voltar a dormir. A comissária levou as irmãs e o médico para a primeira classe e ficou para ajudar. O doutor se impressionou quando viu que o parto não demoraria mais de uma hora. E aconteceria ali mesmo, no avião.

As contrações se tornavam mais intensas, Ana gritava mais alto e com maior intensidade, os de sono mais pesado iam também acordando, as crianças choravam e se esperneavam, as mulheres estavam em pânico e os homens aterrorizados.

O médico disse já estar vendo a cabeça de Clarice, chegara o momento tão esperado, em frações de segundos o resto do corpo deslizara para fora... Não era Clarice, era Ricardo, o pai vencera a aposta.
Um fato desses costuma render uma boa audiência na mídia, então, assim que o avião pousou em Miami, no início da manhã, além de carros da polícia, paramédicos e bombeiros (pra quê bombeiros?) estavam vans de todas as redes de televisão, e é claro, o pai.

Foram todos levados à maternidade e liberados no mesmo dia à noite. As irmãs juravam nunca mais entrar num avião, e assim foi feito, moram lá até hoje. Beatriz se casou com um ricaço de Palm Beach que era o responsável pelas provas da Nascar no estado e exerce com maestria a profissão de mulher de milionário; Beatriz escolheu a luxuosa orla de Miami Beach e se dedicou aos filhos, depois de Ricardo teve duas meninas, ambas nascidas em solo firme, e; seu marido (vai terminar sem nome mesmo) foi contratado pela Odebrecht - Miami.

O menino que nasceu nas nuvens cursou a escola de aviação e hoje pilota Boeings de Los Angeles ao Japão, casou com uma aeromoça inglesa e mantém um apartamento espaçoso em frente ao Central Park. Quando tem tempo vai com a família visitar os pais e tios na Flórida e o restante da família que ficou no Brasil, além dos sogros em Londres. É, uma vida nas alturas.