quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

"Feliz Olhar Novo"

Não gosto de "escrever" coisas dos outros, mas, esforcei-me muito e não consegui escrever uma mensagem de feliz ano-novo que chegasse sequer aos pés dessa, do grande Carlos Drumond de Andrade:


"O grande barato da vida é olhar para trás e sentir orgulho da sua história. O grande lance é viver cada momento como se a receita de felicidade fosse o AQUI e o AGORA.

Claro que a vida prega peças. É lógico que, por vezes, o pneu fura, chove demais…, mas, pensa só: tem graça viver sem rir de gargalhar pelo menos uma vez ao dia? Tem sentido ficar chateado durante o dia todo por causa de uma discussão na ida pro trabalho?

Quero viver bem! Este ano que passou foi um ano cheio. Foi cheio de coisas boas e realizações, mas também cheio de problemas e desilusões. Normal. As vezes a gente espera demais das pessoas. Normal. A grana que não veio, o amigo que decepcionou, o amor que acabou. Normal.
O ano que vai entrar vai ser diferente. Muda o ano, mas o homem é cheio de imperfeições, a natureza tem sua personalidade que nem sempre é a que a gente deseja, mas e aí? Fazer o quê? Acabar com o seu dia? Com seu bom humor? Com sua esperança?

O que desejo para todos é sabedoria! E que todos saibamos transformar tudo em boa experiência! Que todos consigamos perdoar o desconhecido, o mal educado. Ele passou na sua vida. Não pode ser responsável por um dia ruim… Entender o amigo que não merece nossa melhor parte. Se ele decepcionou, passe-o para a categoria 3. Ou mude-o de classe, transforme-o em colega. Além do mais, a gente, provavelmente, também já decepcionou alguém.

O nosso desejo não se realizou? Beleza, não estava na hora, não deveria ser a melhor coisa pra esse momento (me lembro sempre de um lance que eu adoro): CUIDADO COM SEUS DESEJOS, ELES PODEM SE TORNAR REALIDADE.

Chorar de dor, de solidão, de tristeza, faz parte do ser humano. Não adianta lutar contra isso. Mas se a gente se entende e permite olhar o outro e o mundo com generosidade, as coisas ficam bem diferentes.

Desejo para todo mundo esse olhar especial.

O ano que vai entrar pode ser um ano especial, muito legal, se entendermos nossas fragilidades e egoísmos e dermos a volta nisso. Somos fracos, mas podemos melhorar. Somos egoístas, mas podemos entender o outro. O ano que vai entrar pode ser o bicho, o máximo, maravilhoso, lindo, espetacular… ou… Pode ser puro orgulho! Depende de mim, de você! Pode ser. E que seja!!!

Feliz olhar novo!!! Que o ano que se inicia seja do tamanho que você fizer.

Que a virada do ano não seja somente uma data, mas um momento para repensarmos tudo o que fizemos e que desejamos, afinal sonhos e desejos podem se tornar realidade somente se fizermos jus e acreditarmos neles!”

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Amigos Para Sempre


Chovia, tudo ao redor era pura escuridão - relâmpagos trovejavam vez em quando - de repente a estrada estava deserta e bem no meio do percusso entre a cidade de Woodstock e o palco do Festival, na cidadizinha de Bethel, o cenário era apavorante. As árvores invadiam a pista e tornavam o percusso um breu. Ao lado do que seria um acostamento havia uma ruína de igreja, já tomada pela mata mas com uma cobertura suficiente para abrigar os quatro amigos.

Eram dois casais de seus vinte anos, Fred e Alice e Joe e Rachel, iam ao Show de comemoração dos 40 anos do Festival de Woodstock. Neste momento já deveriam estar no show, não fosse a imensa tempestade que fez o carro derrapar no trecho mais sombrio da estrada e bater numa árvore centenária em frente à ruína da igreja.

Os quatro conversavam sobre banalidades como o clima e os últimos resultados do futebol quando Fred, o mais novo, decidiu fazer uma aposta - cada um contaria um conto de terror e o melhor levaria o monte. As histórias eram sombrias, iam desde assassinos em série que usavam métodos de tortura como retirar completamente a pele da vítima ainda viva a almas que aterrorizavam militares aposentados.

Enquanto a chuva diminuia, os relâmpagos e trovões se tornavam cada vez mais intensos, fazendo daquele o cenário perfeito para que aquelas histórias fossem contadas. O grupo estava muito empolgado, cada um já tinha contado ao menos dois contos e não pretendiam parar, mas um barulho de sirenes e carros parando no acostamento os fez interromperem o que faziam, então, com olhos cheios de lágrimas se abraçaram e seguiram rumo à pista.

O acidente daquela noite saiu em noticiários do mundo todo. Os talk-shows não falavam em outra coisa. Programas se dedicaram por inteiro ao ocorrido. As pessoas ficaram muito comovidas com o que ocorrerá com aqueles amigos a caminho de Woodstock. E em todo lugar a manchete era a mesma: Quatro amigos sofrem acidente fatal a caminho de Woodstock e a emergência os encontra em estranha posição - quatro cadáveres de mãos dadas dentro do carro destruído.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Violência em Trânsito

Márcio voltava da churrascaria Mama’Minha, estava sozinho no seu novo Fiat 500, seu mais novo sonho de consumo realizado. Tinha almoçado com a família e ia à casa de um amigo assistir ao jogo da seleção do Brasil com a rapaziada.

Faltavam apenas 15 minutos para as 4 da tarde. A avenida do parque municipal estava completamente deserta, perfeita para ele testar ao máximo seu possante.

Quando o velocímetro chegava aos 140 km/h apareceram em sua frente dois meninos atravessando a pista correndo com uma pipa, ele freou o carro de uma vez, os meninos conseguiram chegar à calçada quando o carro chegava a 40 km/h, mas Márcio não esperava que houvesse um terceiro garoto, que estava bem em frente ao carro. O garoto pulou bem na hora e se livrou do carro.

A sensação de alivio logo deu lugar à raiva. Márcio gritou algo inaudível para o moleque, o qual deveria ter aproximadamente uns oito anos, e o pivete mandou uma dedada de volta. Foi a gota d’água, Márcio pegou o primeiro retorno que apareceu e foi com o carro em direção ao grupo de garotos, que já nem o notavam, de costas.


Sua intenção era de meter uns cascudos no moleque para lhe dar uma lição inesquecível. Tudo ocorreu bastante rápido, um deles viu o Fiat 500 branco com faixas laterais verde e vermelha – un taliano allineare – chegar perto e avisou ao menor deles, o alvo. A reação dele foi imediata, correu para outra pista sem olhar sequer para uma Pajero Full que vinha com certeza, a não menos de 80 km/h e lhe atingiu em cheio.

A Pajero parou e um homem de seus 40 anos desceu e foi ao encontro da vítima, jogada a mais de 100 metros. Da carona desceu uma senhora, a qual parecia ser sua esposa, que foi conter o desespero de três crianças no banco traseiro, duas meninas e um menino, todos menores que o garoto atropelado.

Não sei de onde nem como, mas o número de pessoas que se aglomeravam no local era impressionante, o motorista gritou que o garoto parecia morto e seus dois colegas gritavam e apontavam para o Fiat 500, paralisado no mesmo local do outro lado da avenida desde o momento do acidente.

Foi então que Márcio despertou, arrancou o carro ouvindo gritos e ainda cruzou com a ambulância que ia ao local do acidente.

Chegou à casa do Thiago, seu amigo, e se deu conta de que o jogo já havia começado, o Brasil estava perdendo para Bolívia por um a zero. Thiago não pôde conter o espanto e perguntou:
- O que foi que aconteceu com você cara? Parece que viu defunto.
- E vi. Pior ainda, eu gerei aquele defunto.
- Entra logo e me explica qual foi a merda que você fez dessa vez.

Márcio contou tudo o que ocorrera a todos que estavam ali presentes, e partiu para a delegacia para se entregar, ele sabia que não era o principal culpado, não tinha atropelado ninguém, mas tinha ainda um mínimo de dignidade para honrar e assumir a sua parcela de culpa.

O caso atingiu grandes proporções na mídia e alguns meses depois Márcio fazia campanhas contra a violência no transito. Até que numa saída de festa ele trancou um carro sem intenção e uma bala foi cravada no meio da sua testa.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Viver ou morrer em Paris?

Jules acordou mais deprimido que de costume, esse era o seu problema, acordar. Você pode imaginar, caro amigo, o que é acordar quando se está morto? E ainda por cima conseguindo interagir com todos e ser tido como louco por se declarar um defunto? Por que teimavam com ele algo tão óbvio? O que há de errado em morrer? Se tantos podem por que ele não? Quanta injustiça!

Hoje era um dia decisivo para ele, o seu dia D. O morto-vivo optara por não mais se alimentar, afinal, mortos não comem. Foi quase que rastejando até o banheiro e começou a encher a banheira com água morna, mas logo mudou de idéia, não havia necessidade disso, vestiu o pijama jogado na porta e saiu às ruas numa manhã espetacular na sua charmosa Paris. Dobrou a esquina da rua na qual morava, Rua Cotard, número 1880, e se dirigiu ao seu local preferido da cidade - e também de inúmeras pessoas em todo o mundo - a Torre Eiffel.

O cenário estava perfeito, um gramado repleto de pessoas pegando o sol leve da manhã e fazendo piqueniques, não faltariam testemunhas para vislumbrar sua prova de imortalidade.

Jules pegou o elevador e foi ao último nível da Torre aberto à visitação. Chegara a hora de provar ao mundo que estava certo, ou seja, era um defunto, portanto, imortal.

Já apoiado no parapeito começou a fazer um grande escândalo e rapidamente conseguiu o que pretendia, a atenção de todos ali presentes. Griatava para a multidão: Estou morto! Por que vocês não me aceitam como tal?

As pessoas abaixo dele começaram a se aglomerar para ver de perto o maluco que se jogaria Torre abaixo - a humanidade nunca encontrou atividade melhor do que ver a desgraça alheia, e vê-la numa paisagem daquelas era imperdível, nem o Coliseu é palco melhor.

Peço já desculpas pela descrição tão breve do momento, mas foi um ato tão rápido que o que expus há pouco ocorreu em frações de segundos: Jules, o morto-vivo parisiense, se jogara Torre abaixo atraindo ainda mais curiosos que queriam ver seu corpo em migalhas na base do monumento.

Azar ou sorte, tire suas próprias conclusões, o cadáver estava vivo. Foi levado ao hospital - após um casal de turistas posarem ao lado dos paramédicos para uma foto - e após acordar mais de uma semana depois, descobriu que estava realmente vivo, e, como uma lembrança da tragédia, perdeu os movimentos das pernas e ganhou uma cadeira de rodas. Jules não ficou nem um pouco abalado, aliás, o que é perder duas pernas para quem tinha perdido a própria vida?