domingo, 6 de janeiro de 2008

Horrorshow

Quando me chamaram para assistir a Laranja Mecânica temei ser mais um daqueles filmes clássicos mas não envolventes. Na primeira cena já me surpreendi, ao som da Nona Sinfonia, um sujeito estranho bebe moloko com drogas na companhia de seus drugues em uma espécie de clube, com visual e som que não devem nada aos filmes de hoje. Logo percebi outro fato marcante, a utilização de um vocabulário nunca ouvido por mim, a linguagem nadsat, formada pela junção do inglês, russo e gírias (tem um mini-dicionário no fim do post).

O filme, de 1971, foi adaptado do livro homônimo de Anthony Burgess, escrito em 1962 e dirigido pelo gênio do cinema Stanley Kubrick, autor também de 2001: Uma Odisséia no Espaço e Lolita. Devido à violência, na época do lançamento ele foi proibido no Brasil. Outro lugar que não pôde assistí-lo logo foi o Reino Unido, o qual por ter feito severas críticas a esse aspecto do filme teve sua exibição proibida por Kubrick até a sua morte, em 1999.

Seu protagonista, Alex DeLarge (cujo sobrenome é revelado somente numa referência que ele faz a si mesmo: Alexander The Large) interpretado pelo brilhante Malcolm McDowell é um jovem do ano de 2007 que tem por diversão escutar Beethoven e praticar a ultraviolência na companhia de sua banda de drugues. Filho de pais desleixados, durante o início do filme Alex espanca mendigos e estupra mulheres (inclusive a de um escritor que no momento da invasão de sua casa trabalhava num livro chamado: A Clockwork Orange). Porém, num dos estupros ele comete por engano, assassinato. Traído por seus drugues, ele é preso e torna-se voluntário a um tratamento supostamente capaz de mudar a índole dos homens com uma lavagem cerebral (o médico que acompanhou Alex no tratamento era real, e o fez pelo fato do ator ter ficado temporariamente cego pelo uso do aparelho) o Tratamento Ludovico. Esse tratamento tornou para o deliquente o ato de violência repugnante, e por não se preocupar com o emocional dele, a música de Beethoven também. Dessa maneira Kubrick prova que a sociedade é tão violenta quanto Alex.

Após o tratamento Alex não é aceito de volta pelos pais, na rua é espancado pelos mendigos (o ator teve costelas quebradas nessa cena) e salvo por millicents - por acaso seus antigos drugues - os quais após o reconhecer, torturam-o em um tanque (mais uma cena de perigo, por falha no equipamento que o ajudaria a respirar, Malcolm quase se afoga de verdade).

Maltrapilho e maltratado Alex busca refúgio por engano na casa do escritor, que o acolhe e só o reconhece quando o ouve cantar Singing in The Rain no banho (Alex cantou essa música no dia da invasão, e a mesma só foi escolhida por ser a única que o ator sabia cantar). Desmascarado, foi novamente torturado, dessa vez com a nona sinfonia. Sob muita pressão, Alex tenta o suicídio e fracassa.

No hospital ele volta a ter o instinto cruel e sarcástico, sociopata e narcisista, e recebe do hipócrita governo, que outrora apoiara o Tratamento, o pedido de perdão. Os pais também o visitam. E assim termina o filme, como começara, no círculo que é padrão de todos os filmes de Stanley.

O nome do filme vem de uma expressão norte-americana: "As queer as a clockwork orange", que significa "Tão bizarro quanto uma laranja mecânica". E existem ainda outras curiosidades sobre o filme: a cobra Basil só entrou em cena por Malcolm ter medo delas; Kubrick mudava a posição dos pratos nas mesas e o nível das bebidas nas garrafas para desorientar os telespectadores; e a clássica, na Copa do Mundo da Alemanha de 1974, os jornalistas europeus apelidaram a seleção holandesa de Laranja Mecânica pela sua forma inovadora e perfeita de jogar.

Mas por que esse fascínio pela violência? Stanley Kubrick costumava dizer que existe uma grande hipocrisia a respeito da violência, pois todos são fascinados por ela. O filme foi lançado numa época em que as pessoas questionavam quais seriam os melhores meios de reeducação social e lutavam pelo fim da Guerra do Vietnam, e foi nesse cenário instável que foi lançado Laranja Mecânica. Esse é o típico filme que ou você vai adorar ou odiar. Recomendo-o para os que ainda não viram. xD

Como prometido, o Dicionário Nadsat:
Câncer: Cigarro
Cheena: Mulher
Devotchka: Menina
Droog; Drugue: Parceiro; Amigo
Em: Mãe
Glazzes: Olhos
Gulliver: Cabeça
Horrorshow: Legal
In-out-in-out: Sexo
Krovvy: Sangue
Malchick: Rapaz
Millicent: Policial
Moloko: Leite
Nadsat: Jovem; Adolescente
Nochy: Noite
Orange: Homem
Pee: Pai
Tolchockar: Bater; Acertar
Velocet, Syntemesc e Drencom: Drogas misturadas no leite
Viddy; Videar: Ver
Yarbles: Testículos

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

"Viva o lado Coca-Cola da vida"

Algum dia eu teria que escrever sobre isso, um produto polêmico e ao mesmo tempo presente na maioria dos lares. É difícil acreditar que de um calmante para tosse, produzido pelo farmacêutico John Styth Pemberton em 1886 em Columbus, no estado da Geórgia, EUA, seja hoje o refrigerante mais popular do mundo. No início o refrigerante era encontrado facilmente pelas farmácias e pontos de encontro de Atlanta com o nome French Wine Coca. Por acaso foi misturada com água gaseificada surgindo assim o refrigerante propriamente dito. A fórmula foi vendida para Asa Grieg Candler dois anos depois, um jovem que abriu fábricas para produzir o xarope e autorizava o engarrafamento pelos fornecedores, desde então a bebida já era vendida como algo benéfico à saúde, com o slogan "Deliciosa e Refrescante". O seu inconfundível logotipo foi desenhado e patenteado em 1893, usando o nome de fácil pronúncia "Coca-Cola", sendo reconhecida rapidamente por todo o país.

Para chegar à esse lugar, a Coca-Cola usou desde o início campanhas publicitárias agressivas, associando a bebida a um constante bem-estar. Algumas dessas campanhas marcaram épocas e causaram um efeito surpreendente: na Segunda Guerra Mundial, os soldados americanos enviaram cartas à fábrica da empresa nos Estados Unidos pedindo a bebida na Europa, sendo atendidos com fábricas móveis; a sua versão clássica em garrafa de vidro foi desenhada com o formato do corpo de uma mulher e as saias usadas na época; numa antiga edição especial de natal era possível ver a imagem do demônio no olho do papai-noel, fato reconhecido pela empresa, a qual deu a desculpa de ser apenas para atrair vendas; e tem ainda a influência no natal, pois foi uma campanha da marca na década de trinta que propagou a idéia do atual papai-noel vestido com as cores da Coca-Cola e vindo do pólo norte.

Não se pode esquecer é claro das lendas urbanas que perseguem o refrigerante: desentope pias, usa cocaína( que na verdade foi substituída por cafeína há algum tempo) e traz malefícios à saúde - todas teorias sem comprovação científica. Por esse e outros mitos, a empresa trava verdadeiras guerras judiciais desde a década de 20.

Como toda boa empresa capitalista a Coca-Cola Corporation quer sempre mais, lançou outros sabores de refrigerantes, outras bebidas, e tenta quebrar o tabu de que a Coca e a saúde não se combinam, lançando há pouco tempo versões acrescidas de vitaminas no Reino Unido. E não vamos negar, a Coca-Cola é muitas vezes melhor que água. xD