Eram oito horas da manhã e o sino da igreja chamava os fiéis para mais uma missa dominical na Ilhéus de 1932. Os coronéis do cacau levavam suas esposas até a porta da igreja no porto e atravessavam a rua rumo ao bar Vesúvio, para resolverem negócios...
Assim que o último coronel entrava no bar as portas eram fechadas. Manoel, o português dono do bar, abriu as portas mais distantes do fundo do bar e e foi puxando a procissão pelo túnel escuro. 200 metros adiante Manoel abriu outra porta, essa com dois grossos cadeados, e o Sol, que ali parecia mais radiante, iluminou os rostos dos sorridentes coronéis.
Ali funcionava o Bataclan, o paraíso dos homens daquela região, e de outras, que vinham conferir o comentado bordel e casa de jogos. Na sala de entrada todos guardavam seus chapéus, paletós e bengalas e já acendiam os charutos cubanos enquanto se dirigiam à sala de jogos. De meia em meia hora dançarinas de cabaret entretiam os clientes com shows e iam com os perdedores do poker para os aposentos no andar superior.
Num dos shows o som foi interrompido, Maria Machadão, a proprietária do estabelecimento, uma senhora de seus 60 anos, mas com cara e corpo de 30, entrou no salão e de mesa em mesa cumprimentou os seus clientes. Aquela mulher era tudo o que aqueles coronéis mais desejavam, mas, para a infelicidade deles ela era uma dama de respeito, e só administrava o lugar. Ela passou um tempo maior numa das mesas de jogatina, a mesa na qual estava sentado o coronel Olívio, o único que a possuía. O caso deles já tinha quase uma década, e embora todos na cidade soubessem, eles eram muitíssimo discretos. Primeiro, ela se recolheu ao seu quarto, e em menos de dois minutos Olívio pediu licença para redigir uma carta no escritório público, que ficava vizinho ao quarto da Srta machadão.
Na igreja o padre chegava às duas horas de missa ininterruptas, metade do tempo total, e o calor era insuportável, mas não tanto quanto aquelas mulheres precisavam fingir acreditar nas reuniões dos maridos e tolerá-las, mas, fazer o quê se isso era o preço a se pagar para levar uma vida de madame. Tudo pelas roupas vindas da Europa e pela mordomia de ter escravos numa época em que a escravidão já não deveria existir. Dona Ana Maria, esposa do coronel Olívio, o mais rico da região, tinha seu lugar e os de suas filhas reservados pelo padre Itamar na primeira fila, era o camarote vip da época, o lugar mais próximo de Deus, e do santíssimo padre.
Após quatro horas de missa em latim, cantos que caberiam em uma caixa de vinís, ventos gerados pelos leques capazes de mover moinhos e suor que daria para abastecer a cidade por uma semana o padre ordenou que o coroinha mais velho fosse tocar o sino anunciando o fim da missa, disse ainda: Toque daquele jeito!
O coroinha chamou um colega para ajudar e foram com todas as suas forças tocar o sino, tocavam sempre por três minutos, e então retornaram ao altar. O padre autorizou que abrissem as portas e foi o primeiro a sair em direção ao bar Vesúvio. As mulheres, como de costume, foram conversar na praça enquanto esperavam pelos seus coronéis.
A multidão tinha acabado de chegar pelo túnel do Manoel quando um funcionário do Vesúvio abriu a porta para o padre Itamar. Os coronéis fizeram fila para receber as bênçãos divinas e após recebê-las deram cada um sua contribuição ao coronel Olívio, que somou mais uma generosa quantia e repassou o dinheiro ao bondoso padre, que exercia a cada semana o seu papel celestial de distrair as mulheres. E assim, a vida sustentada por cacau continuou em Ilhéus por muitos e muitos anos, com cada vez mais dançarinas, coronéis, padres e beatas.
Assim que o último coronel entrava no bar as portas eram fechadas. Manoel, o português dono do bar, abriu as portas mais distantes do fundo do bar e e foi puxando a procissão pelo túnel escuro. 200 metros adiante Manoel abriu outra porta, essa com dois grossos cadeados, e o Sol, que ali parecia mais radiante, iluminou os rostos dos sorridentes coronéis.
Ali funcionava o Bataclan, o paraíso dos homens daquela região, e de outras, que vinham conferir o comentado bordel e casa de jogos. Na sala de entrada todos guardavam seus chapéus, paletós e bengalas e já acendiam os charutos cubanos enquanto se dirigiam à sala de jogos. De meia em meia hora dançarinas de cabaret entretiam os clientes com shows e iam com os perdedores do poker para os aposentos no andar superior.
Num dos shows o som foi interrompido, Maria Machadão, a proprietária do estabelecimento, uma senhora de seus 60 anos, mas com cara e corpo de 30, entrou no salão e de mesa em mesa cumprimentou os seus clientes. Aquela mulher era tudo o que aqueles coronéis mais desejavam, mas, para a infelicidade deles ela era uma dama de respeito, e só administrava o lugar. Ela passou um tempo maior numa das mesas de jogatina, a mesa na qual estava sentado o coronel Olívio, o único que a possuía. O caso deles já tinha quase uma década, e embora todos na cidade soubessem, eles eram muitíssimo discretos. Primeiro, ela se recolheu ao seu quarto, e em menos de dois minutos Olívio pediu licença para redigir uma carta no escritório público, que ficava vizinho ao quarto da Srta machadão.
Na igreja o padre chegava às duas horas de missa ininterruptas, metade do tempo total, e o calor era insuportável, mas não tanto quanto aquelas mulheres precisavam fingir acreditar nas reuniões dos maridos e tolerá-las, mas, fazer o quê se isso era o preço a se pagar para levar uma vida de madame. Tudo pelas roupas vindas da Europa e pela mordomia de ter escravos numa época em que a escravidão já não deveria existir. Dona Ana Maria, esposa do coronel Olívio, o mais rico da região, tinha seu lugar e os de suas filhas reservados pelo padre Itamar na primeira fila, era o camarote vip da época, o lugar mais próximo de Deus, e do santíssimo padre.
Após quatro horas de missa em latim, cantos que caberiam em uma caixa de vinís, ventos gerados pelos leques capazes de mover moinhos e suor que daria para abastecer a cidade por uma semana o padre ordenou que o coroinha mais velho fosse tocar o sino anunciando o fim da missa, disse ainda: Toque daquele jeito!
O coroinha chamou um colega para ajudar e foram com todas as suas forças tocar o sino, tocavam sempre por três minutos, e então retornaram ao altar. O padre autorizou que abrissem as portas e foi o primeiro a sair em direção ao bar Vesúvio. As mulheres, como de costume, foram conversar na praça enquanto esperavam pelos seus coronéis.
A multidão tinha acabado de chegar pelo túnel do Manoel quando um funcionário do Vesúvio abriu a porta para o padre Itamar. Os coronéis fizeram fila para receber as bênçãos divinas e após recebê-las deram cada um sua contribuição ao coronel Olívio, que somou mais uma generosa quantia e repassou o dinheiro ao bondoso padre, que exercia a cada semana o seu papel celestial de distrair as mulheres. E assim, a vida sustentada por cacau continuou em Ilhéus por muitos e muitos anos, com cada vez mais dançarinas, coronéis, padres e beatas.
26 comentários:
"Homens, homens todos iguais!"
Missa em latim de 4 hs? Essas mulheres eram muito interesseiras pra agüentar isso, chifres e vestidos vindos da Europa.
Muito bom o texto!
;*
Cenas do próximo capítulo! ;D
Na verdade estou fazendo vários capítulozinhos pra depois fechar o conto. Ainda não sei! E se soubesse não diria! xD
ahahahahah
eis a mais dura realidade e não precisa de cacau nem de coronéis para se saber q a história se repete ainda nos dias de hj. A diferença é mudaram-se os nomes da igreja e do cabaré. Os personagens continuam os mesmos.
legal a historia
bem interessante
Ótima narrativa ...
Texto muito bom.
Bom texto,
melhor ainda pelo fato de eu já ter passado uma temporada em Ilhés e ter conhecido o Vesúvio.
http://putoanonimo.blogspot.com
rsrsrsrsrsrsrs
os padres naum mudaram em nada naum =P
otimo texto, seus contos sao viciantes!
;*
Belo texto...
retrata uma realiddade bem atual....
curioso como certas narrativas mantém a modernidade como estado de espírito
Fique Grilado
http://felipepensador.blogspot.com/
Belo texto...
retrata uma realiddade bem atual....
curioso como certas narrativas mantém a modernidade como estado de espírito
Fique Grilado
http://felipepensador.blogspot.com/
qualquer semelhança com os dias atuais (tirando a missa em latim ahahaha) não é mera coincidencia hahha
eh, eu jah defini, na minha cabeça, a idéia de q TODOS os homens são safados e ponto final!
sessentona com corpo e cara de 30, e de respeito...
quase impossível...
mas já q dizes...
=]
ahaiuahaiuaha
Eu concordo com a Karina!!!!
www.cmonkid.blogspot.com
Coitada da mulher do coronel que é chifrada pela cafetina!
o que será que vem por aí?
Porque isso não parece ser tão estranho?
abraços
texto bem chocante mano, legal msm
http://paranoiaelucidez.blogspot.com/
Hipocrisia pura, né?
As pessoas hoje fazem muito as coisas por conveniência!
esse é o Brasil: prostituição alimentada pelos chefes e aceita pela igreja. aff, quando isso vai acabar? pq sempre foi assim?
não gosto da igreja, gosto de Deus
bélissimo conto de historia regional. deu pra imginar tudo. realmente muito bom.
Você foi homenageado com um selo no meu blog, confira lá:
www.marciodanielramos.blogspot.com
história que acontece ainda hoje a submissão é uma das coisas mais desprezíveis que existem.
e ainda acontecem nos dias de hoje constantemente, só que hoje em dia tem os moleques lá das quebradas que por uma garrfa de cachaça dá uma surra até no papa !
tô brincando!!!!!!
Adorei, vc tem um dom encantador continue assim querido
abraço
http://leozukinho18.blogspot.com/
eu acho que assim vai continuar
legal o texto
show
Mudam os coroneis, os interesses e os padres. Mas a história continua a mesma..Não é mesmo minha gente?!
Tão novinho e jah um gênio...rsrs
gostei do seu blog,muito bom pra acompanhar!
PARABÉNS E SUCESSO!
Amem...
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